por Vladimir Safatle
JÁ HÁ ALGUM tempo, nas campanhas eleitorais brasileiras, candidatos a qualquer cargo majoritário afirmam ter sempre a mesma prioridade: educação. Talvez sejamos o país onde mais se fala em educação e onde, salvo raras exceções, os resultados são os mais desalentadores.
A atual situação tem várias razões, mas a principal delas é: quando discutimos educação, fazemos de tudo para não ouvir aqueles que mais teriam a dizer sobre o assunto, a saber, os próprios professores.
Se ouvíssemos os professores, descobriríamos que um dos maiores problemas de nosso sistema de ensino é o profundo desinteresse que o magistério desperta em nossos melhores alunos, isso principalmente nas carreiras de ensino fundamental e médio. Não é difícil descobrir a razão: os salários são patéticos e as condições de trabalho péssimas.
A situação do Estado de São Paulo é exemplar, nesse sentido. O Estado mais rico da Federação tem salários inferiores àqueles oferecidos no Acre, no Tocantins, em Rondônia, no Rio de Janeiro, em Mato Grosso, no Espírito Santo, entre outros.
Mesmo em suas universidades, os salários são menores que aqueles oferecidos nas federais. É difícil encontrar uma justificativa para tanto.
Se ouvíssemos os professores, saberíamos também que boa parte das inovações no ensino, como o sistema de progressão continuada, a ausência de um currículo mínimo obrigatório e as ditas experiências "interdisciplinares", simplesmente não funcionaram.
A razão é simples: são experiências feitas com pouca discussão com aqueles que devem implementá-las.
Tudo se passa como se a experiência prática do corpo docente fosse um mero entrave para a mudança e a inovação, como se o saber prático dos professores fosse apenas um foco de resistência à grande revolução educacional que gênios de gabinete e consultores pagos a preço de ouro nos prometem.
Isso quando reticências de docentes não são sumamente desqualificadas por eles pretensamente serem mera massa de manobra sindical.
Assim, se há pessoas que gostariam de direcionar seu voto realmente colocando a educação como prioridade, deveriam fazer algumas perguntas: qual candidato ao menos falou palavras como: "valorização dos professores" e "fortalecimento da universidade pública"?
Como os professores avaliam as práticas dos dois candidatos ? Pois, mais do que propostas, há práticas distintas em jogo. Todos os dois têm oito anos de políticas educacionais para colocar na balança.
Por exemplo, um deles teve, como seu secretário em São Paulo, alguém que, quando ministro da Educação, iniciou o processo de expansão universitária através da proliferação viral de instituições privadas de qualidade duvidosa.
Lembraria que, em sua época, houve um processo de sucateamento que levou algumas universidades federais, como a UFRJ, a não ter dinheiro nem sequer para pagar conta de luz. Essas são questões que merecem estar na pauta do debate.
Cinco mil professores universitários procuraram deixar claro este ponto em um "Manifesto em defesa da educação pública" que circula nas universidades e internet. Quem realmente se preocupa com educação, deve começar por lê-lo.
VLADIMIR SAFATLE é professor do departamento de filosofia da USP.
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2 comentários:
O link do final da coluna do Safatle está errado. Por gentileza, poderia mudar para www.emdefesadaeducacao.wordpress.com
Obrigada, Beth.
Obrigado, Beth. O endereço já foi corrigido.
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