SÍLVIA FREIRE
DE SÃO PAULO
Uniformes de alunos das escolas públicas estaduais de Alagoas poderão ter, a partir de 2012, propaganda ou logotipos de empresas privadas.
O governo do Estado sancionou na semana passada uma lei que permite que empresas patrocinem as escolas com doação de uniformes, material escolar e mobiliário. Em contrapartida, elas podem estampar seu nome nos uniformes dos estudantes.
Segundo a Secretaria da Educação de Alagoas, o patrocínio foi a forma encontrada para fornecer o uniforme gratuitamente aos alunos, já que o Estado não tem recursos para isso.
Especialistas em educação e alunos ouvidos pela reportagem criticaram a lei.
Para a pedagoga Helena Machado de Paula Albuquerque, da Faculdade de Educação da PUC-SP, colocar publicidade nos uniformes é um desrespeito ao aluno.
"O fato de utilizar a criança como meio de propaganda, por princípio, é inadequado", diz.
Segundo a pedagoga, a falta de recursos "não pode ser desculpa para o Estado agir inadequadamente, mas deve estimular a reflexão e a busca de alternativas".
De acordo com a psicopedagoga Marisa Ester Aldecoa Rosseto, do Colégio Arquidiocesano, de São Paulo, a partir do momento em que a escola coloca o logo de uma empresa em seu uniforme ela está referendando a empresa ou seu produto.
"A escola não pode ser partidária de nenhum tipo de produto", afirma.
Já o diretor da Usea (União dos Secundaristas do Estado de Alagoas), Anderson Wagner de Queirós Lima, 19, aluno do primeiro ano do ensino médio, afirma que acha o patrocínio positivo como forma de ajudar a melhorar a educação, mas não concorda com a publicidade nos uniformes, que, segundo ele, pode constranger os alunos.
Para o estudante do nono ano Nabson Francisco da Silva, 16, também da Usea, o ensino público deve ser financiado pelo Estado, e a lei trata a educação como mercadoria. Segundo ele, a publicidade é uma forma de estímulo ao consumo.
A lei veta o patrocínio de empresas ligadas à produção ou à comercialização de bebidas alcoólicas e tabaco.
Hoje, as peças do uniforme são bancadas pelas famílias dos alunos, mas seu uso não é obrigatório.
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