28 de maio de 2012

Cresce desinteresse por cursos de licenciatura


Pesquisas revelam ainda que é alto o número de professores e estudantes recém-formados que desistem das salas de aula


 por Maria Gabriela Marins

Estudo realizado pela Fundação Victor Civita, em parceria com a Fundação Carlos Chagas, aponta que apenas 2% dos estudantes do ensino médio pretendem seguir carreira acadêmica. A pesquisa foi realizada com 1501 estudantes do 3º ano do Ensino Médio (10 escolas públicas e 8 particulares), de sete estados do Brasil.

Se outrora ser professor incitava respeito e despertava mais interesse por parte dos jovens; hoje, a baixa remuneração, as condições inadequadas de trabalho e a falta de paciência e vocação foram apontados como os principais fatores que fazem os alunos não optarem por algum curso de licenciatura.

Quando eu falei que ia ser professor minha mãe disse: Vixi, como você abaixou o nível!” (João, escola particular, Manaus)*

Mainha (risos), mainha falou comigo que o mal d’eu fazer História ou qualquer coisa, assim, que eu realmente goste [...] Ela quer que eu ganhe logo dinheiro, ela quer que eu ganhe dinheiro rápido. (risos) Por causa disso, eu vou cursar primeiro Direito, que é também uma área que eu gosto, para depois fazer todas as coisas que eu gosto.” (Beth, escola pública, Feira de Santana)*

O cenário de fato revela que profissionais da área da educação possuem os piores rendimentos do país, de acordo com dados do Censo 2010. Além disso, as condições em sala de aula, sobretudo no que tange a escola pública, são cada vez mais desfavoráveis: no país, por exemplo, há cerca de 33,2 alunos por sala no ensino fundamental, e cerca de 37 alunos por sala no ensino médio (MEC/INEP), o que compromete, de acordo com especialistas, a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

Esses fatores, que têm elevado o número de jovens que não querem seguir carreira acadêmica, também têm elevado o número de professores que entram com pedido de exoneração na rede pública de ensino. Ano passado, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo chegou a receber dois pedidos de exoneração por dia nos primeiros 25 dias letivos.


É o caso de Mauro Bartolomeu, que entrou com o pedido em fevereiro deste ano. “Fui professor efetivo desde 2004 e, mesmo assistindo ao sucateamento sistemático, tinha a esperança de que a classe docente conseguisse se organizar e lutar pela aprovação de leis que pudessem reverter o quadro. No entanto, essa esperança deu seu último suspiro quando o governador logrou driblar a lei do piso. Foi a gota d’água.”

Bartolomeu levanta ainda que a “perspectiva é que as condições de trabalho continuem piorando, sem que a classe docente consiga fazer nada para evitá-lo. Para falar a verdade, a maioria dos professores com quem converso tem vontade de abandonar tudo, e só não o fazem por pura necessidade ou porque faltam poucos anos para se aposentarem”.

Diante das dificuldades que os professores enfrentam dia-a-dia e da própria imagem negativa que os professores passam da profissão, como os jovens revelaram nas pesquisas, até mesmo os que pensaram em ser professores estão desistindo de seguir a carreira. Eloá do Amaral é um dos muitos casos de estudantes que fizeram algum curso de licenciatura, mas não exercem a profissão:

Desisti de dar aulas, antes mesmo de começar, ao perceber que o professor não tem valor, que os alunos não se interessam e que a profissão é vista com descaso pela sociedade. Foi durante o estágio de observação que cheguei a essas conclusões. Observei tanto durante o estágio e ali decidi não lecionar. Soube desde os primeiros dias que não ia suportar crianças e adolescentes sem educação e, principalmente, sem interesse pela educação e pela escola. O pior: além da baixa remuneração, pais e funcionários com pensamentos pequenos, tornando a escola apenas um lugar para se aprender a ler e escrever, e o professor não passando de uma ferramenta para ensinar tal coisa. Percebi que o ambiente escolar não é visto como um lugar para educação, criação e manifestação do pensamento dos jovens, e sim só um lugar de alfabetização.Talvez devesse tentar ter transformado tudo ao invés de desistir covardemente, mas não tive coragem nem força de vontade. Se me arrependo? Não, nem um pouco. Acho que abandonar o que nem comecei foi uma das melhores decisões que tomei. Só desejo sorte aos que ficaram.

* Fonte: Fundação Victor Civita/Fundação Carlos Chagas


Publicado em memejornalismo

8 comentários:

Rose Araujo disse...

Tirinhas que tem como tema educação:
http://rosearaujocartum.blogspot.com.br/search/label/Iscola...%20o%20Crime

Lala disse...

Boa noite, desculpa a pergunta off-topic, mas estou procurando uma luz para uma questão: como se dá o processo de lecionar para os professores eventuais?
Já sei como faz para poder dar aula (cadastro na diretoria, burocracia e afins), mas ainda não tive nenhuma atribuição. Não faço idéia de como funcione (fora que as segundas eu devo comparecer à diretoria em que me inscrevi)... já ouvi alguns relatos sobre como é ser professor eventual (que é bom ter um caderno de atividades já pronto, algumas aulas etc).

Gostaria de saber coisas específicas: posso escolher a escola? e o horário (manhã, tarde ou noite)? tem que preencher o diário? apresentar plano de aula? vou ter que perguntar para um aluno toda vez qual o assunto eles estão vendo? O que eu posso ou não fazer?

Desculpe esse monte de perguntas... é que realmente não sei como funciona e já fiz o cadastro emergencial, que deve sair daqui uma semana mais ou menos... quero estar preparada.

Mauro Bartolomeu disse...

Lala, minha passagem pelo ensino público foi como efetivo, então nunca entendi todos os detalhes do processo para as outras categorias. Mas sei q vc não poderá escolher escola ou horários, tudo vai depender das vagas q estiverem disponíveis qdo chegar sua vez. Plano de aula vc não terá q apresentar, pq ele é responsabilidade do professor titular, mas terá de preencher os diários de classe normalmente. Se vc for da rede pública de São Paulo, não terá muita autonomia, vai ter q dar continuidade nos "caderninhos" do governo (pelo menos "teoricamente"...). Se quiser ir se preparando, a melhor coisa é dar uma lida nesses "caderninhos". Espero tê-la ajudado.

Lala disse...

Obrigada pela resposta.
Onde posso encontrar esses tais "caderninhos"?
Agradeço desde já.

Mauro Bartolomeu disse...

Lala, quem fez o curso de formação de professores podia baixar os cadernos em pdf (tenho os de Língua Portuguesa, posso enviá-los, se for essa a sua área... só me passar seu e-mail). Procurei no portal da Secretaria da Educação mas só estão disponíveis as Propostas Curriculares.
Encontrei um portal q disponibiliza os gabaritos: bumbando.com.br. Quanto aos cadernos propriamente ditos, melhor procurar na sua Diretoria de Ensino. Abç!

Lala disse...

Obrigada pela atenção e resposta... pena que meu cadastro foi indefirido... sem motivo algum!

Mauro Bartolomeu disse...

Não lamente, Lala, talvez os deuses queiram apenas te poupar... mas, como assim, sem motivo algum??

Lala disse...

Bom... no documento que eles lançaram na internet só tinha como cadastro indeferido (meu e de meu marido) e o campo de motivo está vazio em tds da lista... não quis nem ligar pra saber o motivo, essa diretoria centro me parece muito desorganizada... vou ver se consigo realiar o cadastro na centro-oeste.
Enfim... precisamos de um emprego melhor por aqui.