27 de novembro de 2012

Jovens ditadores, pais submissos

Luiz Caversan



- O que a sua filha pede pra você que você não faz?
- Nada.
- Quer dizer que você dá a ela tudo o que ela pede?
- Sim.
Foi tentando demonstrar orgulho e segurança, mas deixando transparecer uma certa vergonha que o pai de uma menina de seis anos deu esta resposta a uma jornalista de TV em reportagem sobre os excessos de mimos aos filhos pequenos.
Oportuna e realista a reportagem, posto que vive-se talvez como nunca uma ditadura das crianças e dos jovens, cuja agenda "pessoal" acaba se impondo perante a família –pais e mães, sobretudo, mas também avós e irmãos mais velhos, tios, professores.
Talvez não seja correto falar em ditadura, posto que se trata de um autoritarismo aceito e consentido: o que o filho pequeno quer tem que ser feito, e faz-se sem pensar em consequência outra que não satisfazer àquela demanda, que se torna imperativa e inescapável.
Até umas duas gerações atrás, para crianças e jovens, não havia o direito de possuir agendas, existiam necessidades que eram, bem ou mal, supridas pelos provedores. Criança não tem querer, dizia-se exageradamente então.
Dando um grande salto em meio a uma infinidade de não muito bem esclarecidas modificações, hoje a situação é completamente oposta: a necessidade gerada pela vontade do pequeno é que determina a agenda familiar. E, em geral, ai de quem ousar não atender a estas demandas...
Submete-se, muda-se o que for necessário: não apenas adapta-se as urgências dos adultos, como planos são alterados, prazeres deixados de lado, horários flexibilizados, tudo em nome da suposta felicidade do petiz.
Que felicidade é esta que existe à custa de qualquer sacrifício alheio? Que moral estabelece essa prioridade invertida? Ou que culpa percorre a mente de pais e mães para que se submetam tanto aos desejos de seus filhos?
Bem não faz, como me lembrou outro dia a colega Rosely Sayão, especialista neste assunto, quando falávamos da agenda distorcida, aquela que desconsidera as reais necessidades de cada membro da família e não é fruto do consenso e do bom senso.
Cria-se, na verdade uma excrecência: dá-se à criança não um direito, mas na verdade uma responsabilidade que não lhe cabe ao se permitir que ela, em toda a sua imaturidade e fragilidade naturais, tome decisões que afetam toda a família. Isso é um peso que não lhe cabe!
Pode parecer bonitinho uma criança com menos de 10 anos, por exemplo, estragar o fim de semana de todos os demais, quando quer porque quer, e os pais atendem a isso, fazer algo que só lhe diz respeito.
Ao decidir que quer isso e impor sua vontade à família, a criança está praticamente pedindo que alguém lhe diga não, que lhe explique que não é assim que funciona, que o mais correto é: vamos fazer o que for melhor para todos.
Deixar de fazer isso é permitir o surgimento de padrões que respondem não mais ao âmbito familiar, mas a exigências que muitas vezes nem é da criança propriamente dita, mas fruto de necessidades fúteis impostas por seu grupo ou por comportamentos massificados propagados por fatores exógenos mídias, em geral.
Crianças, diz a Rosely, precisam muito ouvir não; mais do que isso elas querem ouvir não.
Os pais é que cada vez menos sabem ou desejam fazer isso.
É mais fácil dizer sim...


Um comentário:

Anônimo disse...

É isso mesmo a criança precisa de um limite. É errado fazer tudo o que o pequeno quer. Muitos pais por excesso de culpa, devido a ausência do lar por causa do trabalho, se tornam permissivos para compensar a ausência, erro gravíssimo, porque este pequeno será no futuro um jovem tirano.