No jornal Folha de São Paulo do dia 20 de julho de 2008, p. A2 (Opinião), Antônio Ermírio de Morais escreveu um ótimo artigo manifestando e fundamentando seu apoio aos professores. Fez referência a sua juventude onde “a professora e o gerente do Banco do Brasil gozavam do mais alto prestígio” e relatou algumas análises feitas por ele.
Antônio Ermírio pesquisou algumas medidas tomadas por países desenvolvidos que resultaram em melhora na educação. Obteve surpresas e obviedades. No campo das surpresas constatou que nas nações desenvolvidas “os adicionais de investimento em educação não produzem necessariamente bons resultados na aprendizagem.” Ainda no campo das surpresas notou que “a redução no tamanho das classes tem um efeito desprezível sobre a melhoria do desempenho dos alunos.” Quanto às obviedades, cita a seguinte frase tirada de estudos da McKinsey, apresentado pela Fundação Lemann: “A qualidade da educação não pode ser melhor do que a qualidade dos professores”. Fala, também, de países na condição de emergentes, semelhantes ao Brasil, como Cingapura e Coréia do Sul, que apresentam bons resultados na educação e o professor vem no topo da pirâmide. Como conclusão, nos alerta de que não adiantará apenas aumentar recursos e diminuir o tamanho das classes se o professor não for bem preparado. De nossa parte e em linhas gerais não dá para discordar do que foi escrito. O que podemos fazer, dentro dos nossos limites, é alguma complementação.
Interessante é que, para boa parte daqueles professores que fazem maiores análises e não costumam se submeter às políticas prontas e milagrosas, as análises de Antônio Ermírio de Morais não apresentaram grandes surpresas. O que devemos lembrar é que os citados “adicionais de investimentos” não vem acontecendo no Brasil. Além disso, podemos questionar uma possível diferença entre uma classe numerosa em um país desenvolvido e uma classe numerosa em um país como o Brasil. Normalmente, num país desenvolvido, juntamente com uma infra-estrutura diferenciada há uma condição social e cultural diferente daquelas constatadas no Brasil. Assim, uma classe numerosa lá, composta por alunos de provém de uma estrutura social diferente daquela do Brasil, não é igual a uma classe numerosa no nosso país. Em termos culturais, por exemplo, o Brasil ainda é um país de poucos leitores, há poucas bibliotecas e livrarias e, no geral, a população está mais preocupada com os campeonatos de futebol e os programas televisivos do que com uma boa leitura. E existe uma comprovada desestrutura social em muitas partes do Brasil, pais separados, famílias vivendo de subempregos, má alimentação etc. Daí supormos que uma classe pequena no Brasil, com essas características que expomos, ser mais complicada que uma classe numerosa em outros países.
A escola no Brasil é plural e inclusiva. Todos a freqüentam, os que querem estudar e os que não querem, os que prestam atenção e os que não prestam, os que vão para se socializar e os que vão para subir um degrau na escala social. Essa característica, paradoxalmente, é boa e ruim. Boa porque realmente todos têm que ir a escola e, querendo ou não, vão aprender alguma coisa, mesmo que não for da matéria em si. Ruim porque complica o desempenho geral da classe. Para entender melhor isso só mesmo quem está na sala de aula e pode constatar as grandes diferenças entre as muitas escolas de periferia e as poucas centrais. Nota-se, no geral, que quando um grupo de alunos não está interessado o desempenho da classe fica comprometido.
Quanto à qualidade do professor é outro assunto que demanda muita análise. O que podemos entender por qualidade? Quando falamos em qualidade de um produto espera-se que ele atenda os objetivos para o qual foi feito. Mas, quando falamos em pessoas complica um pouco. Um bom médico, um bom engenheiro é mais fácil entender. O engenheiro calcula bem, sua obra atende normas técnicas, o médico tem grande habilidade em cirurgias e é atencioso, mas, e o professor? Lida com uma classe heterogênea, o que ensina, às vezes, não diz respeito àquilo que o aluno quer entender, o resultado nunca é imediato etc.
No entanto, acreditamos que deve haver sim uma qualidade. Suponhamos que ela possa ser obtida na formação específica, pedagógica e até psicológica do professor, coisas que dá para se aprender em boas faculdades. Para isso acontecer não adianta melhorar a qualidade dos cursos, o mais racional é melhorar o salário dos professores. Eis a questão, que não precisa de muitos rodeios para ser entendida! Com bons salários, bons profissionais vão para a educação, para se formar bons profissionais surgem bons cursos e a disputa por uma vaga no magistério fará com que haja cada vez mais aperfeiçoamento.
Alguns professores são mal qualificados porque quem é bem qualificado não está interessado em ganhar um salário de professor para sobreviver. Analisem alguns concursos de nível superior, de qualquer área, com salários acima de R$5.000,00. Os profissionais que ingressam ali são qualificados. Sem bons salários não existe profissionais qualificados.
Apesar dos baixos salários, e da má condição estrutural das escolas brasileiras, cobram-nos muito. E damos um retorno até satisfatório. Uma coisa que nós, professores, e até a sociedade, não devemos aceitar é esse discurso de que o professor é o único responsável pela aprendizagem dos alunos. Aquele velho discurso que escutamos (“o que você fez para que teu aluno aprendesse?”) não tem correspondência com a realidade. Nossa razão deve repudiar tal indagação. Nosso raciocínio deve repelir com outras indagações: o que o estado fez, o que a sociedade fez, o que a história econômica do Brasil fez, o que os pais de nossos alunos estão fazendo e o que o próprio aluno está fazendo? Depois que eles responderem essas questões nós responderemos a nossa.
Alexandre de Freitas é professor de Geografia na rede estadual de ensino e membro da equipe do blog Sala dos Professores.
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