Sei que em toda guerra as informações são manipuladas por ambos os lados, mas nunca vi uma discrepância tão gritante entre os números divulgados pelo sindicato dos professores e pelo governo estadual. Enquanto o presidente do sindicato dos professores afirma que 75% dos professores da rede estadual estão em greve, o governo continua irredutível em seus ínfimos 2%.
Bem, já vimos como os matemágicos do governo conseguem transformar 5 pontos percentuais em 12. Mas, apenas como exercício de raciocínio, arrisquemos aceitar uma cifra próxima à do governo para a totalidade do estado, e numa mais próxima à do sindicato apenas para a capital. Minha tese é de que mesmo esses números já são significativos, se estão concentrados na Grande São Paulo. Basta pensar que o estopim da greve foi a recente aprovação da lei que altera as regras da remoção, que sem dúvida atinge principalmente os maiores centros urbanos, especialmente da região metropolitana, que absorvem o maior número de ingressantes interessados na remoção tão brevemente quanto possível.
É preciso esclarecer a todos que a remoção ocorre apenas no final dos períodos letivos, em nada prejudicando o andamento das aulas. E ainda que esse não fosse o caso, tratar-se-ia de um erro administrativo por parte da própria Secretaria, e não do professor. O argumento do governo, portanto, não procede. Mesmo a substituição, que pode ocorrer em caráter temporário a qualquer momento, pressupõe a falta de docente em outro lugar, de maneira que qualquer possível prejuízo a uma turma é compensado pelo benefício a outra. Isso, é claro, sem falar na motivação do professor, que obviamente tende a aumentar na medida em que se sente melhor localizado. Qualquer transferência só ocorre porque existem vagas disponíveis em regiões pelas quais o servidor tem predileção, de maneira que o estado não está perdendo membros do seu quadro de servidores, mas apenas deslocando-os para locais onde são igualmente necessários. Quanto à continuidade do trabalho docente, não é em nome dela que vem se elaborando os famigerados “Cadernos do Professor”? Admite-se, então, que a (imposta) “Proposta Curricular” não está surtindo o efeito esperado?
Está difícil entender a lógica do governo, se é que ele possui alguma. Não lhe seria politicamente mais inteligente melhorar as condições do seu sistema de ensino? Se o problema são os grandes centros urbanos, que absorvem o maior número de servidores pouco interessados em lá permanecer, o papel do estado deveria ser se perguntar pelos motivos do alto índice de rejeição por esses locais, e tentar melhorar suas condições de trabalho. Isso sim, e nada mais, poderia desestimular os profissionais de tentar ir embora a todo custo.
O mesmo pode-se dizer a respeito do excesso de faltas de alguns professores. O governo vem tomando uma série de medidas coercitivas para coibir os docentes de faltar, ameaçando puni-los com diminuição do bônus, descontos na folha de pagamento e suspensão de direitos adquiridos, quando seria mais inteligente investir de verdade nas escolas, a fim de torná-las um ambiente mais agradável, onde o professor tenha algum prazer em comparecer assiduamente, sem sofrer estresse ou se desgastar tanto por tão pouco. Em poucas palavras, um lugar de convivência saudável e de efetiva troca de saberes. Infelizmente, estamos muito longe disso.
As propagandas do governo deveriam vir seguidas de advertências similares às das propagandas de cigarro: ACREDITAR NESSAS AFIRMAÇÕES É PREJUDICIAL À SUA INTELIGÊNCIA.
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