1 de julho de 2008

Os Senhores Feudais da Idade Mídia

Sei que em toda guerra as informações são manipuladas por ambos os lados, mas nunca vi uma discrepância tão gritante entre os números divulgados pelo sindicato dos professores e pelo governo estadual. Enquanto o presidente do sindicato dos professores afirma que 75% dos professores da rede estadual estão em greve, o governo continua irredutível em seus ínfimos 2%.
Bem, já vimos como os matemágicos do governo conseguem transformar 5 pontos percentuais em 12. Mas, apenas como exercício de raciocínio, arrisquemos aceitar uma cifra próxima à do governo para a totalidade do estado, e numa mais próxima à do sindicato apenas para a capital. Minha tese é de que mesmo esses números já são significativos, se estão concentrados na Grande São Paulo. Basta pensar que o estopim da greve foi a recente aprovação da lei que altera as regras da remoção, que sem dúvida atinge principalmente os maiores centros urbanos, especialmente da região metropolitana, que absorvem o maior número de ingressantes interessados na remoção tão brevemente quanto possível.
É preciso esclarecer a todos que a remoção ocorre apenas no final dos períodos letivos, em nada prejudicando o andamento das aulas. E ainda que esse não fosse o caso, tratar-se-ia de um erro administrativo por parte da própria Secretaria, e não do professor. O argumento do governo, portanto, não procede. Mesmo a substituição, que pode ocorrer em caráter temporário a qualquer momento, pressupõe a falta de docente em outro lugar, de maneira que qualquer possível prejuízo a uma turma é compensado pelo benefício a outra. Isso, é claro, sem falar na motivação do professor, que obviamente tende a aumentar na medida em que se sente melhor localizado. Qualquer transferência só ocorre porque existem vagas disponíveis em regiões pelas quais o servidor tem predileção, de maneira que o estado não está perdendo membros do seu quadro de servidores, mas apenas deslocando-os para locais onde são igualmente necessários. Quanto à continuidade do trabalho docente, não é em nome dela que vem se elaborando os famigerados “Cadernos do Professor”? Admite-se, então, que a (imposta) “Proposta Curricular” não está surtindo o efeito esperado?
Está difícil entender a lógica do governo, se é que ele possui alguma. Não lhe seria politicamente mais inteligente melhorar as condições do seu sistema de ensino? Se o problema são os grandes centros urbanos, que absorvem o maior número de servidores pouco interessados em lá permanecer, o papel do estado deveria ser se perguntar pelos motivos do alto índice de rejeição por esses locais, e tentar melhorar suas condições de trabalho. Isso sim, e nada mais, poderia desestimular os profissionais de tentar ir embora a todo custo.
O mesmo pode-se dizer a respeito do excesso de faltas de alguns professores. O governo vem tomando uma série de medidas coercitivas para coibir os docentes de faltar, ameaçando puni-los com diminuição do bônus, descontos na folha de pagamento e suspensão de direitos adquiridos, quando seria mais inteligente investir de verdade nas escolas, a fim de torná-las um ambiente mais agradável, onde o professor tenha algum prazer em comparecer assiduamente, sem sofrer estresse ou se desgastar tanto por tão pouco. Em poucas palavras, um lugar de convivência saudável e de efetiva troca de saberes. Infelizmente, estamos muito longe disso.
As propagandas do governo deveriam vir seguidas de advertências similares às das propagandas de cigarro: ACREDITAR NESSAS AFIRMAÇÕES É PREJUDICIAL À SUA INTELIGÊNCIA.

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