23 de março de 2010

A melhora da educação. A quem interessa?

Artigo de opinião. Por Alexandre de Freitas.
Também disponível em: Blog do Prof. Alexandre.

Acredito que o termo melhor possui uma certa ambiguidade. Fico muito assustado quando o governo de São Paulo fala em melhora da educação. Se pensarmos em melhor como comparativo de bom, aí então necessariamente temos que comparar, a afirmação do governo soa até engraçada, tipo... uma auto-ironia (se é que existe isso).
Interessante e já há muita coisa escrita nesse sentido, é que as estatísticas não refletem a realidade plenamente. Muitas delas mostram apenas o quadro geral. Superação de metas, à moda neoliberal, idem. Visto que a educação é um processo longo que se reflete no futuro. E mesmo assim, quando as estatísticas são forjadas para melhor, apresentam uma grande defasagem em comparação com os padrões mundiais.
Em qualquer aula mediana de didática sabemos que é importante focarmos um objetivo em uma aula, em um curso, em um programa curricular etc. Se pensarmos na educação como um facilitador para que o aluno tenha acesso à cidadania, a educação de São Paulo é ridícula.
Isso não é somente constatado em estatísticas (mesmo forjadas) mas é evidenciado por quem está na sala de aula. Que, diga-se em alto e bom som, são os que mais podem manifestar análises e percepções sérias sobre a educação. Alunos em terceiro ano de ensino médio incapazes de entender um texto simples, incapazes de fazer generalizações básicas, sem o mínimo domínio da língua portuguesa, sem calcular equações elementares etc.
A culpa não pode ser (e não é) somente dos professores. Em primeiro lugar é toda uma sociedade em crise de conhecimento, depois um aparato legal que chamam de sistema de ensino (não sei se o termo sistema pode ser aplicado em algo tão irregular), o fator família, a falta de interesse do aluno por não vislumbrar horizontes mais promissores, e por aí vai. Não podemos, nós, professores, carregarmos a culpa de todos esses fatores nas costas. Eu refuto veementemente essa ideia.
Mas voltando ao termo melhor, poderíamos pensar: a educação está melhor para quem? Se eu tivesse uma escola particular a educação de São Paulo estaria melhor para mim, pois que ela colaboraria para atrair mais alunos para minha escola. Se eu fosse um empresário com uma mentalidade de Brasil colônia, eu também poderia me beneficiar da educação, porque haveria uma oferta grande de desempregados por falta de qualificação e eu poderia pagar menores salários (se meu ramo não exigisse qualificação).
Então, se pensarmos assim, talvez a educação de São Paulo esteja melhor. No entanto, se pensarmos na formação cidadã dos alunos, ela é uma das maiores tragédias que vêm vendo praticadas na história desse país. Tragédia que nos atrasará em anos no desenvolvimento tão desejado.
Finalizando, gostaria de lembrar que há muitas vagas na escola pública paulista, em especial nas escolas de periferia. Para quem acha que a educação está indo bem, o convite está aberto para matricular seus filhos nessas escolas. Senhores empresários, políticos (em especial os que defendem e sustentam a todo custo que a educação está melhor), pessoas que ocupam altos cargos na sociedade; imploro a vocês, matriculem seus filhos na escola pública - deixem de gastar com a escola particular. Vocês colherão frutos intragáveis ao verem seus filhos concluindo o ensino médio.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Alexandre e demais leitores,

Atualmente trabalho como professor universitário e percebo os efeitos da falta de interesse por horizontes mais amplos da parte dos alunos e da manipulação de dados para mostrar que tudo vai bem, senão melhor do que ia antes. No entanto, o ensino superior tem uma vantagem (um privilégio, na verdade) que é o do professor ser pago para preparar cada uma de suas aulas e para se dedicar à pesquisa sobre suas áreas de interesse. Eu tenho certeza de que se esse privilégio se tornasse um DIREITO DE TODOS OS PROFESSORES independentemente do nível em que trabalham, a maioria de nós trabalharia com mais empenho e motivação, podendo se dedicar aos casos específicos de cada aluno, pois teria, ao invés de 15, 20 turmas diferentes, apenas 2 ou 3, podendo ficar sempre na mesma escola e definir estratégias de abordagem com colegas de outras séries na mesma turma.
É preciso conscientizar as pessoas que o trabalho do professor não é só na sala de aula e que, se ele não for pago para preparar aulas, corrigir provas, comprar livros, assistir a filmes e peças de teatro, etc., não poderá fazer um trabalho melhor - no sentido menos impreciso da palavra. Abraço.

Mauro Bartolomeu disse...

Caro Anônimo, o Sr. tem toda razão. Obrigado pela colaboração.