8 de fevereiro de 2011

Fascista, eu?

Frequentemente recebo e-mails de professores descontentes com o sistema educacional, geralmente comparando a conjuntura atual com a do passado, e por vezes chego a repassar essas mensagens para minha lista de contatos. Como sou professor e vivo de perto a realidade das salas de aula, costumo concordar com os autores desses desabafos, mas sou mal interpretado por isso. É comum que quem não me conhece pense que eu defendo um retorno ao sistema antigo ou um recrudescimento dos mecanismos de repressão dentro da escola. Recentemente fui chamado até de fascista! Nada poderia estar mais distante da verdade. Tive uma formação intelectual anarquista, e não tenho nenhum pingo de saudade da escola de antigamente, nem da pela qual passei, muito menos pela descrita pelos mais velhos. Sei que ela formou muita gente boa, é claro. Mas acho que esses se formaram apesar dela, e talvez tivessem se tornado até melhores sem ela.

Talvez seja exagero de minha parte. Mas o caso é que não vejo o problema da indisciplina como uma questão que possa ser resolvida com repressão, e aliás nem acho que a responsabilidade esteja inteiramente nas mãos do professor, como querem os defensores incondicionais dos alunos e os bajuladores do governo. Sei que alguns professores mais “linha dura” conseguem controlar salas que à primeira vista semelham mais uma convenção anual dos gremlins. Mas daí a educá-los vai uma grande diferença, a menos que se pense que o objetivo da escola seja “adestrar” nossos jovens.

Estamos diante de um problema de caráter social. Se os jovens não se interessam pela escola, não é porque estejam “repletos de estímulos” em casa ou porque o professor não sabe “despertar” neles essa disposição de espírito, mas sim porque eles não vêem perspectivas de sucesso profissional pela via escolar, ou então pensam que qualquer êxito relativo que possam ter por meio dela será obtido pela simples apresentação do diploma, o que, convenhamos, não está de fato muito longe da realidade de grande parte dos alunos de periferia, que nunca vão conseguir ser grande coisa na vida mesmo. E isso, lamentavelmente, não cabe à educação resolver, porque isso depende de investimento maciço e inteligente de capital.

Depois, o aluno que vê o professor ganhando o salário que ganha, é natural que se pergunte se realmente vale a pena continuar estudando. Não se trata de mero interesse de classe; aumentar o salário do professor é fundamental, tanto para melhorar o quadro do magistério, pela atração de profissionais mais capacitados, quanto para despertar nos alunos alguma perspectiva concreta de sucesso, e portanto o interesse pelas aulas. Concordo que o professor não tem mais autoridade na sala de aula. Nem poderia ter. Ganhando o que ganha, como pode infundir respeito e admiração em seus alunos?

Agora vem o Ministro Fernando Haddad declarar que o foco do novo PNE é a valorização do professor. Mas Haddad é Ministro da Educação desde 2005, por que só agora teve essa luz? Por enquanto, se nos é facultado viver de ilusões, só podemos esperar que o governo da “presidenta” consiga, pelo menos, fazer valer a “Lei do Piso”, aprovada em 2008, que continua sendo descumprida por vários estados, entre eles o de São Paulo.

Por tudo isso, continuo defendendo os alunos, pois não os encaro como os grandes vilões do nosso ensino. Atribuir a culpa dos altos índices de fracasso escolar aos alunos ou aos professores é polarizar o debate de uma maneira muito pouco inteligente, uma vez que todos nós, docentes, discentes e cidadãos decentes deveríamos, isto sim, nos unir para exigir as reformas de base de que a sociedade carece, e não perdermos tempo e energia com joguinhos de empurra.

2 comentários:

Anônimo disse...

O triste de nossa atual situação é que nos acomodamos a reclamar e procurar culpados ao envéz de procurar meios para sanar os problemas... e concordo que infelizmente os maiores prejudicados nesta grande ilusão que tem sido a educação brasileira são os nossos alunos...
Ana Cazarotti

Maryllu disse...

Não perdermos tempo com joguinhos de culpa, pra começo de conversa! Nem encarnar o mártir, aff... Nem o super-herói, que, gente não dá! Secretaria de escola parece ambulatório em termos de bate-papo... A gente tem de ficar alongando no sofanete enquanto as colegas olham horrorizadas o estado psíquico-físico desses novos professores que tão entrando agora... E tenho dito!