O rolezinho é o mais
recente divisor entre esquerdopatas e direitopatas. De um lado, pessoas que
consideram que o rolezinho é uma manifestação popular legítima e que sua
proibição é uma forma de “apartheid”; de outro, aquela galera pra quem tudo é
“vandalismo”, e que acha que a polícia tem mais é que descer o cacetete mesmo.
Como em toda questão que já nos chega distorcida pelo excelente trabalho da
mídia, a coisa é um pouco mais complicada do que esses dois times rivais querem
fazer parecer.
Primeiramente, é
preciso definir claramente sobre o que estamos falando: se estamos condenando
atos de depredação, de violência, intimidação ou roubo, ou se apenas da
reunião, em um local aberto ao público, de um grupo de pessoas que, quando
juntas, promovem a maior baderna (aliás, guardadas as devidas proporções, nada diferente do que já fazem nas
salas de aula). No primeiro caso, trata-se de crimes, que não estão na essência
do “rolezinho”, e cuja culpabilidade é individual, não do grupo. No segundo
caso, estamos falando apenas de uma contravenção, a de perturbação do sossego
alheio. E sim, como qualquer outra contravenção, ela também está sujeita a
pena de prisão ou multa, mas reitere-se: não é um crime. É claro que os
jovens que se organizaram para o acontecimento sabiam de antemão que iriam
perturbar o sossego dos lojistas e dos demais frequentadores do centro de
compras, senão qual seria a “graça”? Pois é aí que a esquerda concentra sua
crítica, porque parece se configurar uma manifestação concreta da luta de
classes. E nisso a esquerda tem razão, afinal sabemos que esses jovens
não têm muita opção de lazer, como não têm acesso a atividades educativas e
culturais (a própria escola não tem sido muito mais do que uma instituição de
encarceramento temporário). Mas é mais do que luta de classes: é também conflito
de gerações e choque de culturas.
Depois, não é
preciso apelar para termos como “happening” ou “flashmob” para entender o comportamento
dessa galera. Ela não precisa de um embasamento intelectual para agir da
maneira que age. Muito pelo contrário: ela absorve instintivamente a informação
e se utiliza das novas tecnologias de comunicação de uma maneira cujo impacto a
sociedade “tradicional” ainda não conseguiu digerir.
Agora os centros de
comércio já conseguem liminares judiciais respaldando a segregação dos menores
de idade (não vou nem entrar na questão do racismo ou do “apartheid social”, porque
a gravidade é a mesma em todos esses casos, o que muda são apenas os critérios da segregação). Ou seja, ao invés de lhes oferecermos
mais opções de lazer, tentamos tirar-lhes as poucas que ainda têm. As práticas administrativas
escolares também refletem as políticas públicas: tenta-se combater a
indisciplina com mais repressão, como se a repressão não fosse, ela mesma, uma
das causas da indisciplina.
Então quer dizer que
devemos dar aos jovens o direito de fazer toda a baderna que quiserem, onde e quando
bem entenderem, impregnarem o país com seus fanques e tocarem o terror geral?
Não, pessoas, não é isso que estou defendendo. Aliás, não estou propondo
nenhuma solução concreta, limito-me a fazer uma constatação: embora a
maioria das pessoas ainda não tenha percebido, já estamos no século 21. Preparai-vos para os rolezões.
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