O tão propalado curso de formação de professores, destinado aos dez mil professores que passaram no último concurso da SEE, tem sido até o momento nada mais que uma apresentação geral do funcionamento da rede pública de ensino, mais ou menos aquilo que todo mundo já aprendeu numa disciplina chamada “estrutura e funcionamento do ensino de primeiro e segundo graus”, que normalmente faz parte da grade curricular de qualquer licenciatura. Entre outras coisas, apresentou (do jeito deles, claro) as cartilhas do programa “São Paulo Faz Escola”, o programa de “incentivo” por bônus e o de “valorização pelo mérito”. Mas trouxe uma informação realmente nova: tudo indica que a Secretaria está preparando o terreno para a implantação de uma “gestão de sala de aula”. É que sempre ouvimos essa expressão em tom pejorativo, e aprendemos que “não existem fórmulas mágicas” nem receitas, truques ou dicas que funcionem para todos os casos, e que “cada situação é única” etc. Mas será que não existem, pelo menos, fórmulas que funcionem nas situações mais comuns? Se existem, por que não são ensinadas? É justamente essa carência que faz toda disciplina de pedagogia parecer uma aula vaga, ou uma obrigação inútil.
Pois bem, no curso de formação fomos apresentados ao professor Doug Lemov, um americano, of course, que acaba de lançar o livro Teach like a Champion, que será lançado no Brasil no mês que vem com o título de Aula Nota 10, no qual ensina nada menos que "49 técnicas para ser um professor campeão de audiência", desenvolvidas a partir de entrevistas e acompanhamento de professores bem sucedidos.
Podemos seriamente questionar o valor científico desse tipo de pesquisa. Se entrevistarmos os empresários de maior sucesso sobre os fatores do seu sucesso, certamente levantaremos uma série de atitudes como empreendedorismo, confiança, ousadia, liderança e tudo aquilo, enfim, que ensinam os livros de autoajuda. Não há dúvida de que essas são algumas das condições imprescindíveis para alcançar o sucesso, o que não significa, de modo algum, que sejam condições suficientes (para comprovar isso bastaria entrevistar os empresários que fracassaram… e que provavelmente seguiam os mesmos princípios). Da mesma forma, é muito temerário pretender que os 5% piores professores possam atingir os mesmos índices de "sucesso" dos 5% melhores, por meio da simples e mecânica utilização das mesmas receitas usadas por estes. Por outro lado, se essas receitas realmente constituírem condições necessárias para o docente bem sucedido, não há razão para que elas não se incorporem às grades curriculares de licenciatura. A Secretaria de Educação deveria, nesse caso, oferecer esse material num curso obrigatório para todos os professores, e não só para os 5% que estão se efetivando agora. Portanto, a menos que ela esteja esperando que essa turma se torne o BOPE da educação, que vai entrar pra consertar as "cagadas" dos outros, é de se supor que ela venha a fazê-lo nos próximos anos, pelo menos se o teste com as cobaias tiver êxito…
Insisto que toda iniciativa de desenvolvimento profissional é positiva, e o próprio curso de formação é muito bem-vindo, apesar do número pífio de contratações. Mas precisamos ficar atentos para que isso não se torne apenas mais uma maneira de o governo responsabilizar a classe docente pelas mazelas do sistema educacional. Os professores estão fazendo sua parte, e, se não se empenham mais, só pode ser por falta de incentivo.
3 comentários:
Grande Mauro, sempre com boas abordagens!
Nunca li um livro de didática escrito por quem está numa sala de aula de escola de periferia.
Falar como se deve proceder sem estar lá é, no mínimo, incoerente.
Olá Mauro.Mas uma vez a política de educação é voltada para um Brasil "virtual". É um absurdo, um professor depois de ser submetido a um desgastante processo seletivo ser aguentar esta "pataquada" importada, que nada mais faz do que tentar mascarar aquilo que tudo mundo sabe: a falência do ensino público.Acho que está na mais do que na hora dos chamados educadores que integram o quadro da Secretaria da Educação tireram a bunda da cadeira e realizarem pesquisas de campo, ou seja, visitarem as escolas para que possa ser desenvolvido uma metodoligia de ensino que possa senão solucionar, pelo menos tentar sanar estragos no sistema de ensino. Dentre eles, chamo a atenção para o analfabetismo funcional, que é sem dúvida principal problema que o professor enfrenta na sala de aula. Para isso, acredito que é necessário com urgencia acabar de vez com a progressão continuada, que na minha concepção é a principal causa do aluno sair da escola sem saber formular ou compreender um texto. Além disso, é preciso retornar aos moldes do sistema antigo de aprendizagem, isto é, o processo de aprendizado da escrita e da leitura na sala de aula tem que ocorrer ao mesmo tempo. Senão, o que resulta neste desastre que estamos vendo. Além disso, em todos os ciclos deveriam ter aulas de redação e análise sintática deveria ser tratada de maneira secundária. Mas infelizmente, enquanto a Secretaria da Educação insistir em nessa "metodologia do maravilhoso",que mais parece história da carochinha, a educação está fadada ao fracasso. É isso.
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