6 de setembro de 2010

Editorial da Folha revela descaso com a classe docente

Reproduzo abaixo artigo do caderno Opinião da Folha de São Paulo que acaba de sair de forno:

Faltam professores

Está no ensino médio uma das principais deficiências da educação no Brasil. O rápido crescimento do acesso ao ensino fundamental nos anos 90 -que redundou na presença de quase todas as crianças entre 7 e 14 anos nos bancos escolares- não foi seguido na última década por igual ampliação da etapa secundária.
Ao contrário, desde 2001 pouco mudou a parcela de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola -próxima dos 20%. E a taxa de desistência tem piorado. Cresceu de 15,8%, em 2003, para 18,7%, em 2008, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas.
Ao mesmo tempo, constata-se um aumento preocupante no número de docentes que acumulam disciplinas no ensino médio. Há três anos, 7% dos professores lecionavam três ou mais matérias simultaneamente. Em 2009, eles representaram 21,5% do magistério.
A falta de docentes é reconhecida pelo poder público, sobretudo na área de exatas, embora dados do Ministério da Educação publicados nesta Folha indiquem um avanço relativo. Cresceu 84%, entre 2002 e 2009, o total de formados em licenciaturas de física, química, biologia e matemática.
Graduaram-se no ano passado quase 40 mil estudantes nessas quatro disciplinas, para as quais há um deficit de 100 mil docentes no país. Mas nada garante que os novos licenciados preencherão todas as vagas -os melhores entre eles podem concorrer a bolsas de mestrado, superiores a R$ 1.000, em vez de ensinar na rede pública, com piso de R$ 950 mensais.
O ciclo vicioso de desinteresse no ensino médio, que afasta professores e alunos das salas de aula, precisa ser rompido. Não será possível fazê-lo sem elevar o nível salarial dos docentes, para atrair bons profissionais. É necessário, além disso, treiná-los melhor, oferecendo aos professores técnicas capazes de tornar as aulas mais atrativas e eficazes.
Enquanto isso não acontece, perdem os alunos e o país, cuja economia já enfrenta falta de mão de obra qualificada.


2 comentários:

cremilda disse...

Não, não faltam professores, os professores é que faltam. Faltam com sua obrigação.
Ao longo da desastrosa gestão do PSDB os professores não fizeram nada para firmar a sua posição de profissão mais importante do planeta.
Nunca se expulsou tanto aluno do ensino médio principalmente.
Esvaziaram as escolas, mataram a galinha dos ovos de ouro e agora choram o leite derramado.
Se reuniram em Conselho de Escola transformando em quadrilha o espaço que deveria ser para discutir os problemas da escola.
Fecharam centenas de escolas e elegeram o Chalita como o vereador com maior número de votos de São Paulo
Agora nem a imprensa leva o professor a sério.
Querem partidarizar a luta, e partidarizar a luta é apequenar a causa.
Os maus professores contaminaram a rede. Os educadores estão acuados nas escolas, tão aflitos quanto os pais pelo rumo que a educação tomou.
Agora querem acabar com as matérias de Filosofia e Sociologia e vocês estão discutindo problemas menores.
Não param de olhar para o próprio umbigo.
Só quando acabar a arrogância dos maus professores, poderão contar com os pais e alunos e melhorar geral a situação da escola pública.
cremildadentrodaescola.wordpress.com

Mauro Bartolomeu disse...

Realmente, dona Cremilda, não dá para negar a profunda apatia e a alienação da classe docente, que nem uma greve decente consegue articular.
No mais, acho que a Sra. vive num mundo só seu. Nesse em que eu vivo, não existe mais expulsão nem reprovação, e os professores é que costumam ser ameaçados por alguns alunos. A escola mudou bastante nos últimos 50 anos.
E se os maus professores contaminaram a rede é porque não se investe em bons professores, só por isso.