O jornal Folha de São Paulo publicou no dia 19 de fevereiro uma reportagem destacando que 208 mil professores lecionam sem diploma, número que representa em torno de 17% dos professores do Brasil.
A exigência para que o professor lecione do 6º ano ao 3º ano do ensino médio é a formação especifica através de licenciatura na área onde vai atuar. Boa parte dos setores da sociedade reconhece esse “problema”. Na própria reportagem, o MEC reconhece a situação ilegal e diz estar articulando políticas para sanar o problema.
A reportagem desperta alguns raciocínios em mim, professor de escola pública. Primeiramente não me sinto confortável para criticar um professor só pelo fato de ele não ter diploma. Claro que a titulação é muito importante, mas eu precisaria conhecê-lo, analisar suas aulas para fazer um juízo de valor. Sem conhecer o profissional temos que apostar em sua titulação. Já conheci professor que cursava faculdade em área diversa daquela em que dava aulas e era muito competente. E já conheci professores pós-graduados com muita dificuldade para provocar situações de aprendizagem.
Via de regra, eu também sou a favor do título. Mas por que será que o Brasil não tem professores formados? Eu escolho a seguinte resposta: porque dar aulas não compensa. A média salarial de um professor ingressante com carga completa (40 horas semanais) no estado de São Paulo gira em torno de 1.600 reais. Imaginou um cara ganhando isso na região metropolitana da capital paulista e tendo que dar aula em duas ou três escolas? Você iria encarar? Pois é. Mas tem mais. As condições, principalmente nas escolas de periferia, são horríveis. Só quem está nessas escolas para perceber.
A mídia tradicional não mostra a total decadência da escola pública periférica. Nessas escolas o diploma é um requisito pouco utilizado. Usa-se mais a diplomacia, a paciência e a tentativa incansável de resolver conflitos de todas as ordens.
De certa feita, um aluno me perguntou até que ano eu havia estudado. Fiquei preocupado. Será que eu ando tão ruim assim? Depois percebi. Que pessoa detentora de curso superior encararia aquela situação?
Proponho uma solução. Aumentem o salário dos professores e dêem condições mínimas de trabalho que não haverá mais professores sem diploma dando aulas. Quem já não constatou alguns concursos de nível médio, onde um terceiro colegial garante o ingresso, sendo disputado por pessoal de curso superior? Sabem por quê? Porque o salário compensa. Eu mesmo já prestei um concurso de nível médio, tinha advogados e engenheiros prestando, salário em torno de 2.500 reais. Não passei. Continuei com meu diploma e meu certificado de especialista nas salas lotadas, calorentas, com alunos LA (liberdade assistida) e ganhando 1.500 reais.
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