29 de abril de 2013

Sobre a violência em São Paulo

Por Arnaldo Martinez


“Dizem violento o rio que tudo arrasta, mas não as margens que o oprimem”
Bertolt Brecht


Os professores da rede estadual de ensino estão em greve desde o dia 22 de abril, embora a imprensa de um modo geral não tenha dado nenhuma linha sobre o assunto até o presente momento, o que é de se estranhar, pois qualquer ocorrência que envolva alunos e, sobretudo, professores, é largamente explorada pela imprensa. Mas o que vem ao caso é: o que querem os professores, afinal?
O governo do estado de São Paulo, embora tenha perdido em três instâncias, insiste em não aplicar a Lei do Piso, promulgada a 16 de julho de 2008, no tocante à redução da jornada dos professores em sala de aula, alegando, por meio de uma matemática absurda, que já o faz. A aplicação da referida lei significa, na prática, maior tempo para o professor se dedicar ao preparo das aulas, fazer uma especialização, uma atualização e até mesmo a corrigir os trabalhos e provas dos alunos. O salário pago aos professores no Estado de São Paulo é de 2.088,27 bruto, chegando a pouco mais de 1.500,00 líquidos para 40 horas/aulas semanais, o que significa lecionar para 400 a 500 alunos em média, por semana, o que torna humanamente impossível a verificação a contento das atividades propostas. Diante dessa situação, o professor é obrigado a compor jornada fora da rede pública estadual, para obter no final do mês um rendimento razoável, na maioria das vezes incompatível com a formação exigida para o cargo o qual desempenha. Estados como Amapá, Roraima, Rio de Janeiro e Distrito Federal têm piso salarial bem superior ao salário pago pelo governo paulista, lembrando que o estado de São Paulo sozinho responde por um terço da arrecadação de ICMS de todo o país. Como se isso não bastasse, o governo paulista chegou ao cúmulo de parcelar os ajustes da inflação dos últimos quatro ou cinco anos em quatro parcelas anuais, defasando ainda mais os baixos vencimentos dos professores da rede pública.
O fato é que há muito a educação paulista vem sofrendo as conseqüências da política do estado mínimo apregoada pelo neoliberalismo tucano. Primeiro veio a reestruturação da rede, separando alunos do ensino fundamental I dos demais, empurrando a rede estadual para um processo silencioso de municipalização; depois, transformaram o projeto da progressão continuada em promoção automática, quebrando o termômetro para ocultar a febre; aí vieram os cadernos de atividades dos alunos totalmente desconectados com o próprio currículo da rede paulista de ensino, que, por sinal, também peca ao privilegiar o ensino da matemática em detrimento das outras disciplinas, e com o agravante de retirar o ensino da gramática da língua portuguesa, na contramão de experiências bem sucedidas em outros tempos na própria rede, como a Escola Padrão e a Escola Vocacional, só para ficar em dois exemplos, ambos voltados para o ensino de humanidades.
Os índices da educação paulista vêm caindo ano a ano, segundo dados do próprio IDESP e nos resultados obtidos na Prova Brasil, o estado de São Paulo tem ficado abaixo de muitos estados brasileiros também. A escola pública paulista se deteriora na mesma intensidade em que se multiplicam os presídios. A educação paulista retrocede na mesma medida em que os grupos de extermínio e as facções criminosas colocam a população civil sob a mira do medo. Pitágoras já dizia na antiga Grécia: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Diante das atrocidades que diariamente se expõem nos telejornais vespertinos, pode-se concluir, infelizmente, que o estado de São Paulo hoje procura, em vão, controlar o próprio monstro que ele criou ao relegar a educação a um segundo plano.

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