Por Arnaldo Martinez
O que move o homem é o seu ideal. Pelo menos é assim que
funciona a maior parte das pessoas que eu conheço. Lembro-me da história que se
conta quando Michelangelo resolveu visitar as obras da Capela Sistina para
observar o andamento dos serviços e, aproximando-se de cada um dos operários,
foi indagando: “O que fazes?”. “Misturo a massa do reboco”, respondeu um deles;
“Armo andaimes de madeira”, respondeu outro; “empilho blocos de pedra”, teria
dito um terceiro, até que um deles, todo radiante respondeu: “Construo uma catedral!”
A escolha de uma profissão não obedece a um critério único.
Há profissões que escolhemos, há profissões que nos escolhem. Alguém pode
entrar como aprendiz em uma oficina, por exemplo, se encantar com aquele ofício
e se tornar um exímio profissional. Outros podem seguir a carreira da família
(sim, existem famílias em que determinada vocação é seguida por quase todos os
seus membros). Há aqueles que almejam uma carreira, mas acabam enveredando por
outra por diversos motivos alheios à sua vontade. São empurrados para uma
profissão bem diferente daquela com que sonhara. No entanto, há um grupo de
pessoas que decidem desde muito cedo o que querem ser e buscam com tanto afinco
que se tornam depois profissionais bem sucedidos em função de suas escolhas.
São privilegiados cujo trabalho não é um fardo, mas uma bênção.
Conheço um bom número de pessoas assim, sobretudo no meio em
que atuo. Eu mesmo sempre soube o que queria ser e o faço com muito prazer e
vontade, como se cada dia fosse o primeiro. Nem a jornada excessiva a que tenho
que me submeter para que meus ganhos sejam razoáveis me desestimula. Mas é fato
que existem aqueles dias em que estou cansado, desanimado, até mesmo
angustiado, mas geralmente são fatores externos ao exercício de minha profissão
que provocam esse mal estar. Estou passando por um momento assim agora, quando
vejo estampado o descaso da sociedade com a Educação, até mesmo em virtude do
silêncio que a mídia faz em torno da luta dos professores e estudantes por uma
educação de qualidade, em face do desprezo do governo por esta tão nobre
carreira. Sim, eu sou professor!
Faço aqui um recorte: no filme Canudos, do premiado diretor
Sergio Rezende, há uma cena emblemática. Após o cerco do arraial pela exército
brasileiro, depois de muitos dias sem comida e nem água, os seguidores do
Conselheiro começam a dar sinais de cansaço. Então um deles chaga para Antonio
Lucena, personagem central do filme e diz: “Vou simbora, compadre... nossa luta
não dá mais não”. Essa fala sinaliza o fim de Canudos. Dias depois, o grupo que
resistiu foi cruelmente massacrado. Suas cabeças foram exibidas em praça
pública como exemplo.
Na sala de professores, discutindo a adesão ou não ao
movimento grevista, os ânimos se exaltam, de um lado e de outro. Observo, porém,
um professor a que muito admiro e respeito, apático, sem esboçar nenhuma reação.
Excelente profissional, já desempenhou várias funções além de sala de aula. Era
um daqueles que escolheram a profissão e que se esforçava por ela dia após dia.
Agora quieto, enquanto o grupo discutia, ele estudava para uma prova de um
curso profissionalizante. Perdeu a fé. Não acredita mais no governo, no
sindicato, na luta, na educação, enfim. Por pouco não me contagia, por muito
pouco! Senti-me dentro do arraial de Belo Monte e ele a me dizer: “Nossa luta
não dá mais não”. E me pergunto: até quando a educação resistirá ao cerco?
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