24 de setembro de 2014

Entender ciências é exceção no Brasil, mostra pesquisa

Segundo Instituto Abramundo, metade dos chefes não entende sequer gráficos um pouco mais complexos, por exemplo. Só 5% dos brasileiros conseguem aplicar a ciência no dia-a-dia


São Paulo – De cada 100 brasileiros que têm pelo menos até a quarta-série, apenas 5 são capazes de aplicar conhecimentos de ciências em atividades simples do cotidiano – como calcular a potência de um chuveiro, por exemplo, segundo levantamento do Instituto Abramundo. 

O Instituto chegou a essa conclusão após analisar o desempenho de cerca de 2 mil pessoas com idade entre 15 e 40 anos que tinham até a quarta série diante de situações cotidianas que envolviam o domínio de conceitos científicos.

O desempenho foi medido de acordo com o Índice de Letramento Científico, desenvolvido pela Abramundo em parceria com o Ibope Inteligência.

Veja qual foi o desempenho dos entrevistados na escala desenvolvida pelo instituto.

Básico
O que consegue fazer? Compreende informações apresentadas de maneira clara (e explícita) em contextos já conhecidos. No fim das contas, não usa conceitos científicos para entender o mundo.

Quantos estão neste grupo? 16% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 29% estavam neste grupo. No ensino médio, eram 14%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 4% eram deste nível.

Rudimentar
O que consegue fazer? É capaz de localizar informações em diversos formatos de textos e reconhecer termos científicos simples, mas não consegue resolver problemas ou interpretar informações científicas. 

Quantos estão neste grupo? 48% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 50% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 52%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 37% eram deste nível.

Intermediário
O que consegue fazer? É capaz de entender gráficos, tabelas, esquemas e textos mais complexos, além de conseguir resolver problemas que demandam a aplicação de conceitos científicos básicos. Mas não conseguem solucionar problemas mais complexos. 

Quantos estão neste grupo? 31% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 20% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 29%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 48% eram deste nível.

Proficiente 
O que consegue fazer? Entende, de fato, termos científicos e é capaz de aplicar conceitos da ciência para interpretar a realidade e em problemas do cotidiano. 

Quantos estão neste grupo? Apenas 5% do total de entrevistados. Entre os entrevistados que tinham apenas o ensino fundamental, 1% estava neste grupo. Do ensino médio, eram 4%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 11% eram deste nível.

Mercado de trabalho      
      
Mais do que dificultar algumas situações cotidianas simples, não dominar conceitos simples (como a habilidade de ler tabelas ou gráficos) também impacta o desempenho dos brasileiros no mercado de trabalho, segundo Ricardo Uzal, presidente do Instituto Abramundo.
A baixa produtividade da indústria nacional está aí para provar este fato. Segundo Uzal, o aumento da produtividade da economia depende de inovação e “a falta de conhecimento científico dificulta a busca por esta melhoria contínua”, afirma.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, metade dos profissionais que ocupam um cargo de chefia no Brasil chegaram até o nível 2 do índice de letramento científico – fato que sinaliza, no máximo, um domínio rudimentar das habilidades derivadas do conhecimento básico de Ciências. Veja o quadro por profissões: 

Profissão/Cargo
Básico
Rudimentar
Intermediário
Proficiente
Profissional liberal / Micro ou Pequeno Empresário / Comerciante / Empregador / Grande Proprietário rural ou industrial / Proprietário ou Produtor rural
13%
43%
30%
15%
Funcionário de nível alto / gerencial (setor público ou privado)
0%
28%
60%
12%
Funcionário de nível técnico / estagiário / trainee (setor público ou privado)
8%
44%
40%
7%
Autônomo formal
14%
51%
30%
5%
Funcionário de nível operação / produção (setor público ou privado)
14%
50%
33%
3%
Trabalhador informal, em casa ou fora de casa
25%
48%
23%
4%
Serviço doméstico, com ou sem carteira
29%
55%
13%
3%

O setor de educação é o que mais possui profissionais proficientes em letramento científico. Mas mesmo assim, a proporção é pequena: apenas 10% dos entrevistados que declararam trabalhar na área de educação atingiram o nível máximo da análise. Veja:

Setor
Básico
Rudimentar
Intermediário
Proficiente
Educação
5%
43%
41%
10%
Saúde
5%
50%
37%
8%
Prestação de Serviços
17%
48%
30%
6%
Indústria Transformação
13%
43%
38%
6%
Administração Pública
6%
37%
50%
6%
Comércio
14%
52%
29%
5%
Transporte
8%
46%
41%
5%
Construção
24%
48%
26%
2%
Atividade Doméstica
46%
54%
0%
0%
Agricultura
40%
60%
0%
0%
Inativo
43%
29%
29%
0%

Além de colocar os entrevistados para resolver problemas, a pesquisa também os questionou sobre o grau de dificuldade que eles tinham para compreender bulas de remédios, tabelas nutricionais ou calcular quanto de combustível era necessário para percorrer um percurso.

O resultado foi desalentador: 48% dos entrevistados não conseguem sequer entender uma tabela com informações nutricionais. Confira os 10 dados simples que muita gente no Brasil não consegue entender.

Fonte: Exame


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